quinta-feira, 14 de julho de 2011

Flecker



Tem uma certa frase na primeira página de um livro que diz que "existem erros monstruosos demais para remorsos". Errei monstruosamente e estou a ponto de me afogar nas ondas invisíveis da culpa pelo que poderia ter sido evitado. Pelo que deveria ter sido evitado. Agora esbarro nas paredes, cego de agonia; mergulho em anátemas ao mesmo tempo que formulo frases de um conforto que, se fosse existente, eu definitivamente não seria merecedor de. Do que sou merecedor, afinal? Da dor egoísta e titânica que sinto - e tão somente dela. Existem remorsos que suplantam erros monstruosos; é o ferrão que permanece fincado na pele enquanto a abelha já está morta; é a lembrança latejante do que foi vivo, amaldiçoado, e, por fim, morto - mas ainda fede. E como fede! Quase consigo imaginar aquelas paisagens da Segunda Guerra Mundial: trincheiras cheias de cadáveres de soldados em decomposição; corpos inchando as vestes e atribuindo-lhes a aparência de dândis napoleônicos; pele arroxeada e esticada denotando uma iminente explosão de tripas, traquéias, pus, cus, dentes; tudo indo aos ares num único estertor de fedor e putrefação. A quem, afinal, estou tentando enganar demonstrando a santidade de um pecador?

Com todas as minhas ironias neste treco epistolar destinado ao Nada,
Digo que te tenho sentimento
O mais puro deles, o menos
Humano
Deles,
Amor.


22/06/2011