quinta-feira, 14 de julho de 2011

Flecker



Tem uma certa frase na primeira página de um livro que diz que "existem erros monstruosos demais para remorsos". Errei monstruosamente e estou a ponto de me afogar nas ondas invisíveis da culpa pelo que poderia ter sido evitado. Pelo que deveria ter sido evitado. Agora esbarro nas paredes, cego de agonia; mergulho em anátemas ao mesmo tempo que formulo frases de um conforto que, se fosse existente, eu definitivamente não seria merecedor de. Do que sou merecedor, afinal? Da dor egoísta e titânica que sinto - e tão somente dela. Existem remorsos que suplantam erros monstruosos; é o ferrão que permanece fincado na pele enquanto a abelha já está morta; é a lembrança latejante do que foi vivo, amaldiçoado, e, por fim, morto - mas ainda fede. E como fede! Quase consigo imaginar aquelas paisagens da Segunda Guerra Mundial: trincheiras cheias de cadáveres de soldados em decomposição; corpos inchando as vestes e atribuindo-lhes a aparência de dândis napoleônicos; pele arroxeada e esticada denotando uma iminente explosão de tripas, traquéias, pus, cus, dentes; tudo indo aos ares num único estertor de fedor e putrefação. A quem, afinal, estou tentando enganar demonstrando a santidade de um pecador?

Com todas as minhas ironias neste treco epistolar destinado ao Nada,
Digo que te tenho sentimento
O mais puro deles, o menos
Humano
Deles,
Amor.


22/06/2011

sábado, 28 de maio de 2011

Vermelho





Já te falaram hoje, moça?


Que seus olhos são pura poesia
Que eles têm free pass em minh’alma inóspita
Que enrijecem minha inerte carne
E deixa linear esta existência abstrata?


Já te falaram hoje, moça?

Que o sol é reflexo seu
Que o mar se afoga em você
Que você é o corpo celeste
Que assaz desejo orbitar?

Não sei se já te falaram hoje,
Moça
Mas eu vou te falar

Que você é o pedaço de inferno que me abrasa
Que você é o doce paliativo que me acalma
Que você é a Vênus de Milo que me abraça

Moça, falo isto com plena convicção!
Quiçá, até, com esse meu amargo coração!

Moça, das rubras maçãs do rosto
Dos braços abertos no poente, moça
Dos dentinhos branquinhos enfileiradinhos
Por que tanto brilha na minha memória?

És estrela?
Estrela, como és, de brilho tardio?
De brilho morto?
Como me traz tanta vida
Estando
Morta
Moça?

27/05/2011 - 11h00m às 18h23m


sábado, 9 de abril de 2011

Pessoalmente, Não!



J., eis o texto que te falei.

Falei tremulando (como uma bandeira desonrosa para um patriota decepcionado) de vergonha - fato consumado.

Talvez eu acerte nalgum ponto da sua personalidade - tomando a liberdade de fazer uma comparação com você-personagem; talvez minha catarse te cause engulhos ou preguiça. Não sei.

Escrevi fustigado pelo delírio oriundo do arrebatamento causado por mera travessia em faixa de pedestre em que cruzei com você uma ou duas vezes. No texto, não tracei o perfil de uma mulher capaz de fazer qualquer mortal ficar de quatro como você o faz; não, salientei uma ou duas características do seu exterior pra deixar claro que não é apenas uma mulher deslumbrante que desperta a verve de um artista; não, pois, se assim fosse, eu teria mil musas por dia por causa da Paulista.

Foi ridícula a forma como te abordei...

Não sei de onde tirei coragem pra debelar essa minha maldita timidez e ir falar com você.

Talvez uma fobia de ser contaminado pelo virus do Petrarquismo e compor milhares de poemas pra uma mulher que não existe além das quimeras. Redundante dizer que você é de carne e osso e pode materializar um ideal. De forma breve? Promissora? Mais um troféu pra estante dos fracassos? Importa-me pouco tais respostas enquanto você for real.

Não nego que talvez eu esteja sendo pretensioso - apesar dos pés no chão e de deixar latente tal vaidade - em te enviar tal e-mail/texto, porém, prefiro correr o risco a não poder demonstrar a uma pessoa do que ela é capaz e da capacidade que ela faz brotar num desconhecido.

Bom, chega, pois aparentemente sou capaz de ficar destilando esse veneno em palavras por horas a fio e parafrasear uma Lou Salomé verdadeira num contexto análogo ao que a própria inspirou num certo alemão bigodudo aí sem chegar a conclusão alguma, como sempre.

Demais conjecturas dependem do que você achar/expor/demonstrar e etc.

É, um beijo... Não deu pra falar, mas o prazer foi meu :)

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

(REC)

Já entendi: nada vale o esforço. Sou apenas uma subjetividade, um complemento para a sua carência afetiva. Sou um holograma que aparece nos seus sonhos e te acalenta, que te faz acordar com desejo de mim. Sou o fantasma, sou a sua inspiração literária. Sou o personagem favorito dos seus textos. Ocupo um grande espaço na sua mente e no seu coração, mas como algo intocável, algo que não pode ser maculado. E é melhor que fique por isso mesmo. Que posso eu, enquanto homem, oferecer de bom pra você? Já não tenho mais capacidade de devotar amor a alguém, estou corrompido até no tutano dos ossos pelos pecados do que já fiz, pelas injurias a que fui submetido e não há nada em mim que se aproveite, não mesmo. Mesmo sendo relativamente novo, estou senil. Meu espírito está velho, cansado, ranzinza, gagá. Já não vejo muita esperança daqui pra frente. Nada de profissão decente, nada de casa confortável, nada de viagens no fim do ano. O que eu posso oferecer é muito pouco, eu sei, e você não merece ninharia. Nasceu grande. É tão jovem e grandiosa que ficar ao meu lado vai te diminuir. Tenho medo de que você descubra tudo isso por si só e se arrependa de tudo o que prometeu no calor da paixão. Como ficarei, depois? Largado ao limbo? Ah, desperdício, desperdício cósmico, coincidências capciosas, Espaço opressor, por que não em outra época? Justo nesta onde a insegurança guia meus passos, onde eu desperdiço um sentimento puro como este no agora; por quê? E o que o mar tem a me dizer? Essa testemunha inanimada do que não pôde ser, de passos na areia que não foram dados, de abraços envoltos na água salgada que não foram dados, de caminhadas em lugares históricos que não foram dadas, de tradicionais carnavais que não foram pulados... E do melhor beijo do universo que não foi trocado.




Não precisamos dessa mágoa.

Matt Skiba - Good Fucking Bye


21/01/2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Decepção Transvalorada

Já não é de surpreender que eu me surpreenda com a decepção. Porque há algo aqui dentro que ainda pulsa pela necessidade de algum tipo de verdade vinda de fora.

Ilusões, mentiras, embustes.

Permito que as palavras entrem nos meus ouvidos ou nos meus olhos, caminhem na minha cabeça e se instalem no meu cérebro como uma bala perdida. Um projétil Dundum, devo ressaltar. Já dentro do meu cérebro, a idéia permanece. E vai apodrecendo conforme as atitudes afirmadas dentro de um determinado contexto vão se esvaindo e perdendo o sentido. Quando, por fim, um ideal auto-imposto (e exposto) foi traído, a ferida que tomou origem na minha cabeça se espalha pelo meu corpo. Afeta a minha fala, afeta a minha visão. Tartamudez e visão turva são normais. Ausência de sentidos sensoriais e depois a ausência do sentido, quando a ferida alcança o coração.

Leviandade, frivolidade, temperamentalismos.

Todas moedas do mesmo valor colocadas no mesmo bolso. Todas dando a entender algo íntegro, derradeiro, concreto. Moedas falsas. Moedas lapidadas no fundo do quintal de um subconsciente afetado. De um subconsciente frágil, que fia-se a valores vazios. Moedas que não podem comprar o que se quer.


 Moedas que não compram o meu amor por você.


The (International) Noise Conspiracy - Up For Sale
The (International) Noise Conspiracy - Capitalism Stole My Virginity

domingo, 16 de janeiro de 2011

Throwing Up Soul


Tristeza? Não! Mágoa com os outros? Não! Um pouco de revolta com os outros, talvez, mas não é algo que gera tais vontades de fora pra dentro e sim o inverso. É compreensível o porquê de eles desistirem. É o vislumbre e a compreensão da própria e perpétua inutilidade que acaba com o interior, que é o cerne da negação e, posteriomente, da desistência. E a ciência de ter uma essência imutável e negativa, algo que não pode ser alterado, algo que só vai gerar os mesmos erros sempre e sempre. O que vem de fora parece não atingi-los. O problema não são os outros. O problema é o problema que eles SÃO para os outros e principal e crucialmente para eles mesmos. Quando eu toco no assunto as pessoas ficam meio suspeitas pra falar sobre. Eu falo sobre, eu penso sobre. Estudo sobre. Diabos, como posso querer continuar sabendo que "a minha maior virtude é a ciência de cometer o mesmo erro sempre?" - como diz a música da banda O Inimigo. Que diabo de puta que o pariu de vida sem sentido é essa? É só isso mesmo? Nascer, trabalhar, dar risada, procriar, sofrer, sofrer de novo, comprar, pular, nadar, rir de novo pra depois de tudo isso morrer e ser esquecido? Por que eu não posso usufruir de tudo que está em volta? Por que a gente tem que nascer com uma inteligência elevada - e revertê-la na transformação de rios de dinheiro - ou simplesmente com a sorte de nascer em berço de ouro para conseguir tudo isso? Por que temos que ser consumidos por sonhos que são socados em nosso rabo quando pequenos e ralar o cu na ostra muitas vezes a vida inteira pra conseguir realizar um ou outro que são sonhos secundários, gerados pelo contentamento da ciência do que podemos alcançar ou não? Por que simplesmente não saímos flutuando de um lugar pro outro sem ter que pagar nada? Por que eu tenho que agradecer por uma coisa que eu não pedi pra ter, que tenho que me foder pra manter, pra alguém que eu e nem ninguém nunca viu? Eu também não suporto não saber! Quero uma explicação pra tudo isso e ela nunca vem. "Carpe diem" é o meu cu virado do avesso. Hoje fui praticamente ameaçado de morte com um olhar de um cretino mal encarado só porque sem querer pisei no pé do infeliz. Como posso "Carpe Diem" se um balanço do ônibus coloca a minha vida em risco? Eu começo falando isso sobre tirar a própria vida, a PRÓPRIA VIDA, no entanto, ah, no entanto se eu tenho alma, eu senti ela se mexendo dentro do meu corpo, sabe?, um trimilique de medo, ela com medo de perder seu invólucro... Será? Quero entender e não entendo. Não vou entender... Esse teclado é o dedo dentro da minha garganta. Esse bloco de notas é a minha latrina. Vomito. Esse é o meu vômito, as minhas vísceras, os tesouros da minha alma medrosa expostos aqui para a fermentação do tempo, no tempo. E fugi do escopo que me trouxe até aqui... Merda!

08/01/2011

domingo, 5 de dezembro de 2010

Momentâneamente Sem Ar

Nada vale o esforço que se faz. Eu não mereço esse mundo e essas pessoas justamente pela reciprocidade disso: eles não me merecem. Tanto o mundo como as pessoas. Sigo tentando por que sou teimoso e até orgulhoso. Não vou dar o braço a torcer. Não, não vou. Não vou procurar o penhasco com uma corda enrolada no braço. Não vou lhes dar esse gostinho. Vou continuar sugando o oxigênio e exalando o gás carbônico do mundo e farei o mesmo com as pessoas; sugarei seus defeitos e os transformarei em flores. Mesmo que isso, depois, me renda a dor que sinto no momento. Eu não pedi o ar que respiro e a vida que tenho, assim como não pedi pra você me inspirar essas coisas. Se eu exalo o gás carbônico é por que tenho necessidade de tal mecanismo pra me manter vivo e se escrevo sobre você, bom, digamos que é por que preciso disso me manter vivo, também. Sinto-me sufocado, no momento. Você cortou o meu ar, me deu um soco no estômago, me fez engasgar, encheu meus olhos de lágrimas. Eu não pedi isso. Eu não precisava disso. Não precisava de agradecimentos, nem de louros, nem de congratulações. O ar não precisa falar essas coisas. Se eu deixar de existir, ele continuará por aí. O ar não precisa dedicar-se unicamente à mim. Assim como você. Agora, preciso de aparelhos pra respirar e aqui, nesse deserto, não há nenhum. Sinto-me em outro planeta, como um astronauta sem sua roupa espacial, respirando os gases venenosos, desviando de plantas carnívoras, sufocado, perdido, olhando pro céu, pro espaço, para as estrelas, esperando ajuda, esperando uma abdução, esperando uma cápsula voadora, um asteróide assassino, um vento de peste negra pra acabar com isso de uma vez; extinguir a lenta e repetitiva agonia de viver com ar escasso, com um ar traiçoeiro carregado de substâncias maléficas pro meu lânguido organismo. Até quando, isso, assim, dessa forma? Se eu não fosse tão orgulhoso e teimoso, eu revisitaria a possibilidade de sair qualquer dia desses com uma corda enrolada no ombro procurando uma árvore bem bonita pra me pendurar. Mas você vai ter que me engolir enquanto eu respirar. E enquanto você for o ar que eu respiro.